Se
por Maria Rita Angeiras
Se vier, vem aos poucos, para eu poder me acostumar a ter você por perto. Mas não deixa eu me acostumar muito, para eu não abandonar meus sábados felizes com a cantora de jazz e meus domingos perplexos com o cineasta.
E se vier, não tenta me desvendar. Deixa eu ter alguns segredos só meus, porque quando alguém tenta me descobrir, em algum lugar soa um alarme avisando para eu me proteger.
Vem, mas vem devagarzinho, sem fazer muito barulho. Eu tenho um lado de bicho assustado que corre quando se sente inseguro, em contraste com o meu lado de bicho carente que se enrosca quando quer carinho.
E se vier, não pede demais. Eu aprendi a dizer não e ainda não decidi muito bem para quem dizer sim.
Vem, mas vem inteiro, sem deixar nada seu pelo caminho, porque eu já cansei de amar aos pedaços.
E se vier, deixa eu balançar a perna, mesmo que isso te enlouqueça. Não faço por ansiedade, mas para ter certeza de que estou viva, pulsando, existindo.
Vem, mas não pergunta muito. Minhas respostas parecem complexas demais, mas eu sou tão fácil de agradar que é até sem graça.
E se vier, não confia muito nas minhas palavras burras e indignadas. É meu sorriso que mostra quem eu sou, não esse vocabulariozinho pedante de escritora.
Vem, mas vem sem rotina. Aquário com ascendente em peixes morre lentamente com o dia a dia.
E se vier, vem com um sorrisinho de canto de boca. Eu juro que vou te amar todos os dias só para te ver sorrir de volta para mim.
Vem, mas não vem muito subliminar. Meu lado que questiona é cem vezes mais esperto do que meu lado que entende.
E se vier, vem sem muita pressa. Prefiro aqueles que me roubam aos pouquinhos do que aqueles que me levam inteira, de uma vez.
Então vem, vem logo, deixa ser.
Do resto a gente cuida.
É isso.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
I lov it!
Postar um comentário