A noite das borboletas.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Essa noite ela ganhou todas as borboletas. Por que borboletas? Simples. Elas gostam das flores. Por que borboletas? Porque elas são a prova da metamorfose ambulante. Do se fazer o colorido daquilo que é revestido por uma casca sem graça. Porque as borboletas são tão inconstantes quanto ela mesma. São tão inquietas quanto ela o é. Atraídas pela luz, a ponto de nela ou por ela se perderem. Essa noite ela sentiu o coração querer explodir. Eufórica, como se acabasse de descer de uma montanha russa. Ela sentiu pelo pulsar no seu pescoço, pelo tremor na sua voz. Ela se sentiu tão feliz quanto alguém poderia ser. Como se o papai Noel sempre tivesse existido. E ela nunca tivesse acordado para as tristes desilusões da vida adulta. A bailarina sorriu. Como uma criança que ganha o brinquedo mais desejado. E quis sair dançando. Um samba seu. Como sempre faz, na sala de casa. O mandacaru se reconheceu. Admirando a si mesmo. Como o ser mais estranhamente belo que já viu. Não a beleza convencional e puramente estética, mas a beleza inesperada, a beleza que instiga. A beleza não pelo que aparenta, mas por todas as reações que pode provocar. A noite das borboletas, vai ser contada para os netos que ela terá um dia. Mesmo que noites como esta sejam, ainda, indescritíveis. Como essa coisa do querer, mais que bem querer. Como o fato de que algumas pessoas fazem nossas vidas diferentes. Ela vai contar sobre a surpresa. Sobre o inesperado. Sobre aquele abraço. Não. Não foi só porque ela ganhou as borboletas. É porque são as borboletas. E a bailarina, e o pé de mandacaru, e o samba, e o ursinho, e o chocolate. E tudo aquilo que faz parte do pequeno universo criado por ela. Do mundo que ela escolheu pra guardar consigo dentro de sua redoma, onde pouquíssimos tem o privilégio de entrar. Não. Não há nada que você não tenha percebido. E ela será eternamente grata por isso. Porque para o ser humano, mais difícil é encontrar quem lhe penetre a alma.


“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.”
Antoine de Saint-Exupéry

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