E o dia amanheceu em paz

sábado, 30 de janeiro de 2010

Eles fizeram como há muito não faziam. Como no começo. Sentados no banquinho. Ele usava o perfume que ela gosta. Ela se fez bonita, fingindo displicência. Os cabelos soltos, refletindo a luz. Conversaram amenidades. Coisas vãs. Palavras sem sentido. E riram de si mesmos. Como no começo. Contaram coisas de suas vidas. De como cada um seguiu seu caminho. Ele falou da nova namorada. Ela falou que estava bem. Estavam felizes. Sem maiores pretenções. Só por perceberem que algumas coisas não mudam. Por saberem que carregam boas lembranças. Talvez como consolo, chegaram a conclusão que a vida tinha sido injusta. Quando tudo de que eles precisavam era de uma mínima e única chance de darem certo. Eles juntos, não funcionaram. Ela pensou que lhe devia desculpas. Por ele olhar pra ela de um jeito tão bonito. Pior, por ele pensar nela de um jeito tão bonito. Ele não deveria. Ele não tinha o direito de olhar pra ela daquele jeito. Não quando ela mesma, consciente ou incoscientemente, trazia ainda tanta mágoa. Ambos se explicaram. E agora, somente agora, eles entendiam. Sem ressentimentos. Só que agora, diferente do começo, ambos carregam consigo uma bagagem enorme. Que não pode ser apagada, esquecida, ou deixada para trás. Usando o velho cliché "o rio seguiu seu curso". E aquele sentimento, eles vão sentir. Como uma coisa boa de lembrar. Sabendo que todos os atropelos, serviram de aprendizado. E que felizmente o tempo, não destrói tudo, quando pelo menos alguma coisa desse tudo, é de verdade.

Todos eles juntos num só ser.

Tem aquele que olha. Tem aquele que beija. Tem aquele que abraça. Tem aquele que arrepia. Tem aquele que admira. Tem aquele que ouve. Tem aquele que fala. Tem aquele que faz. Tem aquele que sabe. Tem aquele que ri. Tem aquele que chora. Tem aquele que sonha. Tem aquele que foi. Tem aquele que é. Agora só falta todos eles se apresentarem num só. Aquele que será. Aí tá tudo resolvido.

Sobre o casamento

"É escolher alguém e fazer dar certo."

Frase do dia

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"Até as pedras se encontram".
Minha mãe é um barato :P
Tá explicado de onde vem tanta filosofia.

O arco-íris de óleo

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Estava lendo um texto no elessabemdemais.blogspot.com, que mencionava o arco-iris na poça de água. Aquele que faz quando é derramado combustível na água, e a luz do sol reflete as cores. Lembrei de como foi incrível a primeira vez que vi um arco-íris no chão, numa poça, no caminho entre a minha casa e a casa da minha avó. O mesmo aconteceu quando escutei "obséquio" pela primeira vez, eu ria, contava a todo mundo sobre aquela palavra. Achava engraçado o som que fazia quando pronunciava. Não tinha idéia do que significava, mas também para aquele momento, não importava. Lembrei de como é gostosa a sensação de descobrir novas coisas, mesmo que depois alguém venha e diga que não era um arco-iris de verdade. Ou que "obséquio" significa "por favor". Nessa hora lembrei de todas as coisas que ainda me surpreendem. Como o olhar de Lívia pras cortinas com as bonecas. Como eu acordar, sem reclamar, as 05 da manhã, só pra ver se ela tava respirando, porque não chorou durante a noite. Como tirá-la do berço cedinho, com o dia clareando, e ficar brincando com suas mãozinhas e os pingentes da minha corrente que ela descobriu pelo barulho e pela cor reluzente. A cena mais encantadora que vivenciei nos últimas dias. A mais assustadora também. O sinal de mudança. Lívia, o nome não poderia ser outro, com seus olhos redondos, sua cabeleira preta, a pele branca e as bochechas rosadas de tanto esfregar no lençol. Me olhando e sorrindo, com jeito de quero mais, como quem pergunta: O que é que você tem aí pra mim? Aí pensei em todas as coisas com as quais ela ainda vai se surpreender. Todas as descobertas. Todas as experiências que viverá. E me veio uma necessidade urgente de ver Lívia crescendo, falando, andando. Pulando na cama da avó. Rabiscando todas as paredes da casa com giz-de-cera. Entrando no quarto e pegando no meu cabelo enquanto diz: Acodaaa titiaaa. Lívia em todos os seus vestidos cor-de-rosa e lilás. Pensei em todas os livros que lerei pra ela, até que ela aprenda a lê-los para mim. Imaginei as conversas que teremos. E quando ela vier me pedir algum conselho. E quando tiver que consolar aquela menina, por causa das peças que a vida acaba nos pregando, inevitavelmente. Senti uma vontade enorme de abraça-la e deixa-la pra sempre ali, guardadinha, aninhada em meus braços. Porque Lívia ainda é tão pequena e o mundo é tão grande.

domingo, 17 de janeiro de 2010

"A vida custa um bocado de tempo e um monte de relacionamentos."

A metade da laranja

Outro dia tava lendo um texto sobre essa coisas de metade da laranja, de cara-metade. Esse negócio de ser metade. Isso é muito complicado. Quando eu nasci minha mãe deve ter pensando que eu tinha cara de um monte de coisa, menos de laranja. Acho que laranja não é o tipo de coisa que você deseja ser quando crescer. Muito menos a metade dela. Alguém já ouviu alguém dizer: Quando crescer eu quero ser a metade de uma laranja!? É porque ser metade é extremamente frustante. Ser metade significa que por mais que você se esforce, nunca será inteiro. Aí todo mundo diz que é exatamente nisso que reside a beleza da coisa toda. Ser metade significa ter uma outra metade que, um dia, vai se juntar a você e formar um todo. Sim, meu amigo, mas se você, por um desses acasos da vida, não encontra a outra metade, vai ser condenado a passar o resto da vida na mísera condição de parte!? Fora a sensação de impotência que a busca ineficaz traz consigo. E se um engraçadinho ou engraçadinha da vida chupou toda a tua outra metade, e só deixou o bagaço? Você começa a se sentir um verdadeiro fracassado por que num mundo, com bilhões de possibilidades, você foi o único, sim, porque a essa altura você começa a se achar a única banda de laranja do planeta, a ser incapaz de encontrar sua outra banda.Você começa a achar, mesmo contra a sua vontade, que a vida é incompleta. O que te torna extremamente dependente de qualquer um que se apresente como a tua outra parte. Aí vem também aquela outra questão: com tantas possibilidades, o que te faz ter certeza que aquela banda de laranja que você encontrou, é de fato, a que te complementa? É. Definitivamente, essa coisa de ser metade, não é fácil. Prefiro me fiar na idéia de dois inteiros, que não são laranjas, e que um dia, por um mero detalhe do caminho, se encontram e acreditam que podem somente acrescentar ao outro aquilo que tem em demasia. Isso, somente, caso o outro inteiro esteja também interessado. Tá bom. Pode até ser que eu só acredite nessa idéia porque, hoje, ela me convem. De todo modo, prefiro acreditar que, no fim das contas, dois inteiros são mais que duas metades.

Pensamentos

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

"- Tenho medo dos meus pensamentos.
- Eu também.
- Você também tem medo dos seus pensamentos.
- Não, tenho medo dos seus."
Tenho até medo dos meus pensamentos. Tenho medo porque, às vezes, eles são sórdidos. Tenho medo porque, às vezes, eles chegam muito próximo da realidade. Tenho tanto medo, que fico me vigiando, inventando desculpas racionais. Na tentativa inútil de me convencer que são pensamentos, são só pensamentos. Tolos, inúteis, bobos, fúteis, infantis. Apenas reflexo de uma consciência meio desesperada. Ou não. Talvez, sejam reflexos de um inconsciente cheio de esperanças.