Perfeito

domingo, 22 de agosto de 2010

Se

por Maria Rita Angeiras

Se vier, vem aos poucos, para eu poder me acostumar a ter você por perto. Mas não deixa eu me acostumar muito, para eu não abandonar meus sábados felizes com a cantora de jazz e meus domingos perplexos com o cineasta.
E se vier, não tenta me desvendar. Deixa eu ter alguns segredos só meus, porque quando alguém tenta me descobrir, em algum lugar soa um alarme avisando para eu me proteger.
Vem, mas vem devagarzinho, sem fazer muito barulho. Eu tenho um lado de bicho assustado que corre quando se sente inseguro, em contraste com o meu lado de bicho carente que se enrosca quando quer carinho.
E se vier, não pede demais. Eu aprendi a dizer não e ainda não decidi muito bem para quem dizer sim.
Vem, mas vem inteiro, sem deixar nada seu pelo caminho, porque eu já cansei de amar aos pedaços.
E se vier, deixa eu balançar a perna, mesmo que isso te enlouqueça. Não faço por ansiedade, mas para ter certeza de que estou viva, pulsando, existindo.
Vem, mas não pergunta muito. Minhas respostas parecem complexas demais, mas eu sou tão fácil de agradar que é até sem graça.
E se vier, não confia muito nas minhas palavras burras e indignadas. É meu sorriso que mostra quem eu sou, não esse vocabulariozinho pedante de escritora.
Vem, mas vem sem rotina. Aquário com ascendente em peixes morre lentamente com o dia a dia.
E se vier, vem com um sorrisinho de canto de boca. Eu juro que vou te amar todos os dias só para te ver sorrir de volta para mim.
Vem, mas não vem muito subliminar. Meu lado que questiona é cem vezes mais esperto do que meu lado que entende.
E se vier, vem sem muita pressa. Prefiro aqueles que me roubam aos pouquinhos do que aqueles que me levam inteira, de uma vez.
Então vem, vem logo, deixa ser.

Do resto a gente cuida.

É isso.

Just listening

sábado, 14 de agosto de 2010

"If you, if you could return, don't let it burn, don't let it fade.
I'm sure I'm not being rude, but it's just your attitude,It's tearing me apart, It's ruining everything.
I swore, I swore I would be true, and honey, so did you.
But I'm in so deep. You know I'm such a fool for you.
You got me wrapped around your finger..."

Cansada

Cansada. Cansada de esperar você chegar. Cansada de ver você partir, assim, como quem vai na esquina comprar jornal. Cansada de esperar você crescer. Cansada de todas as crises: financeiras, econômicas, mundiais, existenciais. Cansada de tanta indecisão. Dessa condição tão humana, carente e insegura. Cansada de todas as juras quebradas, do amor prometido e não cumprido. Cansada.

A voz da sabedoria

" - Mãe, eu só queria encontrar um namorado que fosse inteligente, bem-humorado, boa pinta, seguro, resolvido, educado, cavalheiro, romântico, com atitude, com "pegada"... É pedir demais???
- Minha filha, quantos namorados você quer ter? "

Certezas

"É que nessa vida você só tem duas certezas: uma é da morte, a outra é de que você nunca terá tudo o que deseja."

Correndo grandes riscos

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O grande risco

— São três tatuagens: duas na perna e uma nas costas que ainda preciso terminar; e você sabe. Ai, homens… nunca entendo. Te deixo perguntar qualquer coisa e você faz as perguntas que já sabe a resposta? Anda! me pergunta outra coisa, qualquer coisa.
— Eu me sentiria um mané te perguntando as coias que eu realmente gostaria.
— Mané você parece agora, com esses olhos de criança. Anda, pergunta logo. Tá me deixando curiosa, se bem que eu acho que sei o que é. Você não sabe disfarçar, e mesmo que soubesse, às vezes não tem jeito, sentimentos transcendentes.
— Trans o quê?
— Ó, vem cá, relaxa. Vem! Me dê a mão. Chegue mais perto, um pouco mais. Sem pressa, sem medo. Deixe o momento te levar, entregue-se. E quando você se entregar de vez, só vai correr um risco: o grande risco de dar certo.

Literatura de Araque - http://luclucluc.tumblr.com
Recomendo.

Opinião masculina - finalmente, alguém que entende.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Solidão Contente

O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas

por Ivan Martins (editor-executivo da ÉPOCA)


Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão. Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas. Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha. Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas. “Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”. Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor. Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou. Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre. A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem. A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói. Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome? A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade. Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda. Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos. Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer. Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha.
Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil.

A hora no portão

domingo, 8 de agosto de 2010

Aquela hora no portão fica cada vez mais difícil. Aquele nó na garganta que insiste em se fazer notar. É que o tempo passa tão rápido quando estamos juntos. É tão pouco tempo pra absorver o outro. Os olhos marejados, a voz embargada. Nada de muitas despedidas. Nós não somos bons nisso. Nos rostos de quem fica, as marcas do tempo são suavizadas pela certeza do dever cumprido. A mesma certeza que ameniza a dor por tantas despedidas, e tantas outras que ainda estão por vir. A certeza de que eles vieram ao mundo pra "voar", mas sempre voltarão pro lugar seguro. E aqueles que ficam, estarão sempre ali, de braços abertos. Porque por trás daquele portão, que mudou de forma e de cor com o passar do tempo, que já viu tantos abraços emocionados, tantas chegadas e tantas partidas, existe o amor na sua forma mais sublime. O amor construído a cada dia, ao longo de muitos anos. Nos rostos de quem vai, o silêncio de quem tem que ir, mesmo a contra gosto. Mesmo com aquela vontade enorme de ficar. A saudade, instalada permanentemente, se rebela. Apodera-se de todo o corpo antes do carro virar a primeira esquina. Aqueles que partem, cada um vai pra um lado. É que a vida tem dessas crueldades. Ela nos obriga a crescer e escolher. E mais uma vez é a certeza que ameniza a dor. A certeza de sempre poder voltar. Porque ali está toda a nossa vida. Porque ali estão guardados os sucos de groselha e de tamarindo, tão intragáveis, que hoje nos rendem boas risadas. Ali estão guardados os cachorros que corriam atrás de mim, quando eu ía comprar leite na rua de trás. A vez em que Gigio esfolou o queixo. As duas vezes, aliás. A vez em que Thiago atolou na lama, com a bicicleta, em meio ao trânsito de uma avenida em construção. Ali estão guardados nossos primeiros passos, nossos primeiros versos, nossos primeiros amores, nossas brigas de moleques, nossos bichos de estimação, que nunca duravam muito - os passarinhos mainha deixava fugir, nossas brincadeiras no quintal, na rua, o futebol na garagem, a macarronada da minha mãe, o assobio característico do meu pai, a buzina pra abrir o portão. É isso que ameniza a saudade. É lembrar de tudo de um forma tão gostosa. É saber que sempre teremos as reuniões na cozinha, em volta da mesa. É saber que qualquer que seja o caminho, cada um de nós carrega um pouquinho que seja do outro.
Hoje, ver Lívia balançando a maõzinha, enquanto o carro partia, deixou meu coração tão apertado. E ao mesmo tempo feliz, por saber que ainda teremos muitas despedidas, porém ainda mais outros tantos reencontros.

"Não desesperas com o banzo
e nem fique entristecido
se a estrada é nossa sina
se a distância é o destino
lembra-te que é na saudade
que o poeta encontra abrigo".

Thiago Simões Feitosa 08-08-2010

Ele enviou essa poesia na hora em que eu estava escrevendo o texto acima.

Princesinha

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Se a TV estiver fora do ar, quando passarem os melhores momentos da sua vida.
Pela janela eu estarei de olho em você.
Completamente paranóico."

Antes que o sono chegue

"Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme."