Aquele das cebolas

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Então, ela se viu chorando, enquanto cortava cebolas. E riu das grossas lágrimas que rolavam face abaixo, pensando em quanto tempo fazia desde a última vez que aquilo tinha acontecido. Não de ela cortar cebolas, mas de ela chorar. Ela que tem aquela já tão conhecida dificuldade, herdada geneticamente, em lidar com os sentimentos. Então, ela ficou ali. Tentando entender como seus olhos vertiam água, apenas água com gosto salgado, sem o mínimo de sentimento ou sensação, nem alegria, nem tristeza, nem alívio, nem dor. Talvez, apenas um pouco de espanto, e saudade. De alguém que certamente riria daquela situação, e lhe tomaria num abraço apertado, dizendo que ela ficava linda até cortando cebolas, mesmo que cortar cebolas não seja lá um cena sublime, poética ou apoteótica para qualquer pessoa que se declare com domínio pleno das faculdades mentais. Terminou seus afazeres. Havia vencido mais uma batalha com os temperos e com o fogão que tentava a todo custo dominar, porque aprendeu que todo afago, por menor que seja, faz bem a quem se quer bem. Tomou um banho demorado. Era a primeira vez que apartavam-se em muitos dias. Esperou a ligação que teimava em não chegar, tentando dominar o sono e o cansaço de um dia que demorou a passar. Finalmente, as palavras. Tinha ansiado o dia todo por elas. Tão duras, tão secas, tão amargas palavras. E descobriu, com uma pontada de desapontamento, que naquela noite, as cebolas não seriam as únicas a lhe fazer chorar. 

Aquele sobre o cavalo encantado do príncipe branco

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013



Aí eu esperei, esperei, esperei e você chegou. Depois de muitas histórias sobre príncipes e sapos que se metamorfoseiam ao longo do caminho, eis que me deparo com aquele que não se apresentou como personagem principal. Sim, porque exceto pelo de Tróia e o de Fogo, não me lembro de muitos cavalos (foi assim que você foi “pintado”) que mudaram a história do mundo, real ou da fantasia. Não sei sobre os príncipes que andam por aí, salvando as princesas dos dragões, ou salvando os dragões das princesas, ou ainda salvando a si mesmos de dragões e de princesas (acontece também). Não, não sei sobre os príncipes, até porque, a bem da verdade, exceto para minha mãe que assim me considera (as mães são sempre tão otimistas), não sou bem o que poderia se chamar de princesa. Sobre sapos... Ah! Já me deparei com muitos, já tropecei em alguns e já engoli outros tantos. Nesses quase trinta de contos de fada, já me vi diante de todo tipo de personagem e criatura fantástica. E mesmo assim não sei muito sobre muita coisa. O fato é que, em tuas palavras, pra minha sorte, encontrei você. Que me veio assim, sem saber ao certo o que queria, conduzido por mãos amigas, cansado de percorrer longas estradas de histórias sem fim. E ainda bem que, no meio do caminho, encontrei você.  Você que me descreveu da forma mais bonita que alguém poderia. A quem eu amei porque já sabia, ou não sabia, mas, de alguma forma, sentia. Você que me faz querer que o tempo voltasse, porque os longos anos de vida que teremos juntos não parecem o suficiente para todas as risadas, conversas, para todos os beijos e abraços que nos doamos diariamente. Não sei como se comporta um príncipe. Mas sei que você é fiel aos teus princípios, aos teus valores e crenças. Você ama a família e os amigos. E isso é tão raro de se encontrar hoje em dia. Não sei o que um príncipe faz. Mas sei que você me faz querer ser mais. Você me percebe de todas as maneiras, no “alô” de um dia nublado, na tagarelice das minhas aflições, até mesmo no mais absoluto silêncio, onde só a respiração denuncia. E, ao contrário do que dizem os despeitados, é de uma sensibilidade e generosidade sem igual. Não, você não faz o tipo que desfia os sentimentos em poesia, tudo isso te absorvo no olhar. Aliás, você não faz tipo nenhum, pra ninguém. E de repente, é por isso que você faz o meu tipo. Não sei o que um príncipe pensa. Sei que fico imensamente feliz toda vez que concordamos ou discutimos cada pequena ou grande ideia, porque pensar é tão raro hoje em dia. E eu fico aqui tentando traduzir o que sinto. Mas é tudo tão diferente de qualquer coisa que possa ser explicada. O fato é que você veio, e eu posso ser eu quando estou contigo. Não porque eu precise de você, é exatamente porque não preciso. Porque “às vezes a vida é dura demais para ficar sozinho, e às vezes a vida é boa demais para ficar sozinho.” Porque tudo que acontece vem de um querer (mais que bem-querer), de amar e saber-se amado, de gostar de quem me gosta. Porque meu pé procura o teu durante a noite, porque teu abraço é o meu lugar preferido nesse mundo, porque quando estamos juntos, o mundo acelerado, como nossas vidas corridas, parece girar lentamente. Porque a gente ri até chorar. Porque você se alegra quando eu canto com minha voz de cantora de jazz desafinada. Porque juntos vamos conquistar, se não o mundo, os nossos sonhos. Então, te amo. Por ter chegado quando eu menos esperava, quando eu mais precisava, quando eu já não acreditava. Por me fazer viver o amor real, aquele imenso, intenso e sereno, como o mar em dia de calmaria. Por me ensinar a difícil arte da doação. Por firmar e reafirmar, diariamente, o sentimento que nos une. Sei que vão me acusar de ser clichê, mas é assim que é.  As histórias de amor são clichê. E eu digo que, ainda assim, é muita sorte viver uma delas. Não sei o que o futuro nos reserva, mas se o presente é uma pequena amostra do que estar por vir, não tenho nada a acrescentar, senão mais amor, saúde e serenidade, sempre. Para que nos tornemos, um dia, aquele casal de velhinhos resmungões, que não saberiam o que fazer da vida sem o outro. E que nosso final seja o velho conhecido, porém tão esperado: “E foram felizes para sempre”.  Que assim seja.