Da próxima vez...

sábado, 11 de setembro de 2010

Da próxima vez não me mande flores, ou cactos, ou qualquer coisa que viva (ou tenha vivido). Não que eu não goste. Aprecio o gesto. É bonito. Encantador. Diria até, comovente. Mas já está mais do que provado que não sei cuidar de outro ser vivo que não seja eu mesma. Aliás, aquela história de coração gelado, tá me soando bem verdadeira ultimamente. Tá vencendo pelo cansaço. Exceto pelo fato de que quando eu passo, a luz do poste acende, o que me dá uma ponta de esperança. Da próxima vez, faz o trivial. Sairemos pra jantar, ouviremos uma música agradável, beberemos algo, você contará histórias, dirá algumas coisas engraçadas, algumas palavras bonitas, nada muito meloso. Doce, bastará a sobremesa. A receita é infalível. Não inventa muito não. Nada de jurar amor eterno, nada de falar de paixão, de qualquer outra coisa que o valha. Muito complexo, pra um começo. E o resultado se compara a discutir política, futebol e religião. Ou seja, algumas (ou muitas) divergências, poucas conclusões e nenhum consenso. Da próxima vez, deixe para lá. Falaremos sobre amenidades. Sobre o tempo "maluco" que tá fazendo. Você dirá que achou bonita a cor das minhas unhas, mesmo que não faça idéia de que cor seja aquela, considerando a tua escala reduzida as sete cores do arco-íris, ou até menos, para o caso de você ser daltônico. Dirá que aquele jeans fica ótimo em mim. E que gosta do meu perfume. Só não vai dizer que é o mais cheiroso que sentiu. Porque aí eu já vou pensar que você tá mentindo. Faz isso. Não é pedir muito. Nem é tão difícil. No final da noite as coisas acontecem, na cadência de um beijo. "A gente não ama, mas finge que ama pra ver como seria se amasse". Sem pudores, sem grilos, sem urgência. No outro dia você me liga, perguntando se está tudo bem. Me deseja um bom dia e até a próxima vez. Amanhã é outro dia.

3 comentários:

Bruno Owen disse...

Mas é como diria Fernando Verissimo, mulher que não recebe flores murcha rapidamente e adquire traços masculinos como rispidez e brutalidade. Entao isso é um grande risco de as mulheres nao deveriam correr.

Katita disse...

Como diz a música: "toda mulher gosta de rosas". A questão aqui não é o gesto em si, mas o que ele implica.
As flores são um detalhe, o importante está implícito.

Katita disse...
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