Azul da cor daqueles olhos

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Mateus tinha os olhos azuis mais azuis que já vi. Só o encontrei duas vezes, em toda minha vida. Num intervalo de horas de um mesmo dia. Mais um desses momentos de puro acaso. Por uma boa meia hora, me perdi no azul dos olhos de Mateus. Não conseguia desviar o olhar daqueles olhos. O que, confesso, me deixou desconcertada. É que eles me fizeram esquecer, por um breve instante, tudo aquilo que me incomodava. Aqueles olhos me deram férias do trabalho, aliviaram minhas dores, anularam minhas preocupações, me fizeram sorrir. É que o azul dos olhos de Mateus, não era igual a nenhum outro azul, nem ao do céu, em dia ensolarado, nem ao do mar, com seus tons em degradê. De hoje e por todo a minha vida pregressa, nenhuma cor foi tão viva quanto o azul dos olhos de Mateus. Mateus, por sua vez, passou o tempo se deliciando com o que via a sua frente. Apenas as expressões em seu rosto e seu olhar eram capazes de denunciar alguma emoção ou sensação mais forte. Não falava nada. Não perguntou meu nome, nem o que eu fazia. Também nada disse sobre si. O que foi bem oportuno, pois falar só viria a me dispersar daquele instante. Soube o seu nome por acaso. Como tudo naquele momento, foi por acaso. Depois do azul dos olhos de Mateus, lembrei de como o azul me fascina. De repente todas as fachadas de prédios eram azuis, as roupas dos transeuntes eram azuis, os anúncios espalhados pela cidade eram azuis. Tudo ficou azul. Mas nada se comparava ao azul dos olhos de Mateus. Duas bolas perfeitas cravadas num rosto branco, de pele macia e nariz reto. Pensei na natureza irônica que, talvez, querendo compensar a ausência dos outros sentidos, oferecia a Mateus aqueles lindos olhos azuis, brilhantes e vivos. Aqueles olhos que parecem não piscar, por não querer perder um segundo sequer de vida. Registrando tudo a sua volta. Pensei em tudo que aqueles lindos olhos, com não mais que 6 anos de idade, ainda vivenciarão. Desejei que o mundo fosse mais bonito, só pra ser visto por aqueles olhos. E pensei que, enquanto viver, nunca mais vou esquecer o azul dos olhos de Mateus.

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