História de uma gata

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Um dia desses, ouvi alguém dizendo que tudo de que um gato de rua precisa é de alguém que lhe dê um pouco de leite e lhe leve pra casa. Talvez eu me enquadre na categoria e seja uma gata de rua. E você... Você eu nem sei. Me faltou tempo e espaço para descobrir. De você, eu só sei que faz o tipo mandão e espaçoso. Com seus peremptórios, suas perguntas capciosas e todos aqueles palavrões bonitos que me fazem rir. Não pelo vocabulário em si, mas pelo fato dele quebrar a tensão a nossa volta. Você até sabe o que significa CNTP. E conhece todas as bandas inglesas com repertórios meio depressivos, que eu adoro. Você otimiza o tempo, e (nas tuas palavras) eu sou tão preguiçosa. Talvez seja a bendita herança genética. Aquela que temos em comum. Talvez seja só porque cansei de tanta pressa, uma vez que ir tão rápido, além de nunca me levar muito longe, ainda me impede de apreciar a paisagem. Você gosta de preto e vermelho, eu, de vermelho e branco. E você tem essa coisa de querer me dobrar, mas se você soubesse, eu sou tão fácil que é até sem graça. Prefiro evitar a fadiga. Só gosto de sair sem ter planos e voltar quando quero. Você passa férias em Vegas. O mais próximo que estive de um jogo de azar foi de um bingo no sítio Carrapicho. Se é que um bingo cujo prêmio era uma galinha pode ser considerado um jogo de azar. Exceto pra ave, é claro. Além do mais eu nem gosto de desperdiçar a sorte à toa. Você entende o que eu falo. Certo, nem sempre. Minhas ironias são insuportavelmente sutis. E de verdade, gosto de te ver todo airoso, tentando explicar o inexplicável. Fica mais engraçado quando você fala rápido igual a narrador de futebol no rádio. E eu falo assim, com esse sotaque mezzo pernambuco, mezzo paraíba. Você tem tanto do que eu gosto. Tanto. Mas a verdade é que, embora até aprecie a literatura, não tenho vocação para as personagens de Nelson Rodrigues de quem você gosta. Pelo menos não o tempo inteiro. E hoje, advinha só? Everybody is changing and I don't fell the same. Então dou a partida. Pra você, deixo aquele abraço, com toda a meiguice que você conseguiu identificar, por trás de cada resposta ácida. Porque eu não suporto tanta imprevisibilidade. Porque perto de você eu encaro a dualidade de, mesmo com tantos predicados, me sentir ora menos, ora mais medíocre. E todo mundo tá cansado de saber que eu nunca soube lidar com a mediocridade, principalmente com a minha. Porque não consigo aceitar essa invasão no meu mundo. Porque incomoda que queiram tirar o meu equilíbrio. Porque essa dúvida entre querer e não querer que o telefone toque ainda me causará uma gastrite. Porque essa sensação de estômago embrulhado vai me matar aos poucos. Porque eu não quero esperar pra te ver ir embora. E principalmente porque prezo imensamente pelo meu sono.

2 comentários:

Anônimo disse...

O seu jeito de gosta dele é se afastando, porque por mais que seja difícil agora, será infinitamente menos do que se insistir nessa história!
Mas a culpa é dele....kkkkkkk
Quem manda ele ser tão insuportavelmente charmoso, hein?

Katita disse...

Pode ser. Ou não.
Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.