Seria trágico se não fosse cômico

sábado, 21 de maio de 2011

O fato é que existe uma situação com a qual, definitivamente não me sinto à vontade: a morte. Por motivos óbvios, é algo com o qual não sei lidar. Nunca sei o que dizer, porque acho que nada do que eu diga vai aplacar a dor de quem perdeu alguém. Não sei pra onde olhar, nem onde colocar as mãos. Um velório pra mim é quase uma tortura. Vai parecer frio, mas explico. É que o velório é um registro prolongado da dor dos que ficaram. Um registro da sensação de impotência diante dos fatos. Você fica ali remoendo, pensando no quanto a vida pode ser justa ou injusta. E o pior de tudo: você é obrigado a encarar o fato de que um dia também morrerá. E, sinceramente, isso me dá muito medo. Mas o fato é que, pelo menos no velório, todo mundo se ocupa da vida (ou da morte) do morto. À você é concedido o direito de entrar muda(o) e sair calada(o). Ultimamente, outro tipo de evento social, se é que podemos chamar assim, tem me incomodado muito mais que o velório. A festa de casamento. Festa de casamento, quando se está solteira, pode ser um verdadeiro desastre. Não pelos noivos, ou pela festa em si. Tá tudo lindo. Todo mundo brindando. Mas dependendo do seu humor, a noite se resumirá a distribuir sorrisos amarelos e responder positivamente a todas as bobagens que for obrigada a ouvir. Quer ver só? Você tá lá, na sua. Pode estar impecável. Uma verdadeira diva. Sempre tem aquele tio chato que diz: “Você ta mais forte ?!” (Leia-se: você está mais gorda). Aí você tem vontade de responder: "Tenho me esforçado. Quando chegar no teu tipo (barril), eu paro.” Mas você se contém, afinal estamos numa festa, solta o primeiro “Pois é, ?!", e dá um daqueles sorrisos amarelos. Nada vai abalar o seu bom humor. Aí você assiste a cerimônia. Fica por ali, ouvindo a música, se sentindo um peixe fora d’água. Porque em festa de casamento parece que todo mundo só anda aos pares. Como de propósito, somente pra afrontar a tua solidão. Aí chega outro tio, bem legal, e dispara: “Cadê o namorado? Quando é que você vai trazer um?” Pois é, ?! Cadê o namorado? Me pergunto isso todo dia. Pode parecer um pouco de desespero, então você sorri (amarelo)novamente e responde, com uma ponta de esperança, que no próximo casamento ele virá. Hora da noiva jogar o buquê. Sua mãe olha meio cúmplice: “Você vai tentar pegar o buquê?” Para ela não tem por que mentir. “Não sei mãe, vai que eu pegue mesmo. E vai que dá certo”. Vocês riem juntas. Nem tudo está perdido numa festa de casamento. De repente, aquele carinha lindo, de óculos, que você viu na igreja, também sozinho, te chama pra dançar. Vocês dançam. Certo que começa a tocar lambada e você não dança lambada desde os oito anos de idade. Mas tudo bem. Alguns descompassos, nenhuma queda. O que já é um grande feito. Entabulam uma conversa. Amenidades, coisas vãs. Tudo bacana, até a fatídica hora do “Quantos anos você tem?” A cada dia, me convenço mais de que a idade das mulheres incomoda mais aos homens que a elas mesmas. Você mantém a classe e devolve: “Quantos anos você acha que eu tenho?”. Ele te dá 21 anos. Existem algumas hipóteses para tal resposta: 1º O creme anti-sinais está fazendo um puta efeito; 2º O óculos embaçado, a maquiagem e o efeito da luz noturna, resultaram naquela ilusão típica ( a noite todos os gatos são pardos), sem falar no efeito do álcool; 3º Ele viu que estava prestes a botar tudo a perder. Você sorri e fala a sua idade. Pra você, ela (ainda) não se configura como um problema. Aí pronto, o cara mete o dedo no nariz. “Então você é mais velha que eu? louco pra descobrir o que você pode me ensinar”. Ele pediu. Deus é testemunha de que você tentou, mas ele pediu. Primeiro que você não é professora. Segundo que velha é a estrada. “Pois é, ? Não sei se sou mais velha. Não perguntei a sua idade, mas deduzi pela sua conversa e pela sua reação que devo ser.” Se nada tá dando certo, você tem ao menos o direito de rir um pouco, nem que seja da sua própria desgraça. O garoto (agora que você se sente quase senil) ainda insiste em demonstrar toda a sua virilidade, mas o sino bate meia-noite. Hora da Cinderela se transformar em Gata Borralheira. Tentando desesperadamente chegar até a porta de saída, você encontra aquela tia. Toda família tem “aquela” tia. Ela pergunta quem era o menino com quem você dançava. “Eu vi, viu? Ele era bonito.” Você solta o último sorriso amarelo da noite, acompanhado de um “Pois é, ?”. Pra finalizar a história, como desgraça pouca é bobagem, você reencontra um ex, com quem você não falava há pelo menos 10 anos. Ele não pergunta como você está? Se você fez alguma grande descoberta que trouxe alguma contribuição para humanidade? Ele pergunta se você casou. Aquela altura, você responde que sim, que casou, casou duas vezes e enviuvou nas duas. Eles morreram misteriosamente, em dias de TPM, nos quais coincidentemente você se encontra. Os corpos nunca foram encontrados. Ele ri, sem perder a pose, diz que a mulherada hoje em dia tá voando em cima, mas que no momento está solteiro, por opção. “Pois é, ?!” No que depender de mim, vai continuar assim. As badaladas do sino continuam. Au revoir para todos. Você corre , se certificando, a cada passo, de que não deixou nenhum sapato para trás.

4 comentários:

Ateliê Craft disse...

Minha cara amiga. Esse texto deve ser publicado. Imagino Arnaldo Jabour lendo e interpretando ele.

"Hilário, envolvente, magnífico."

Danielly Guedes.

Revista Times.

Luiz Sebastião Jr. disse...

Concordo com a Danielly e acho que uma coletânea dessas crônicas deveriam virar um livro... eu compraria... desde que viesse com autográfo.

Anônimo disse...

Muito bom!
Quando eu crecer quero ser igual a você!! rsrsrsrs... bj. Xuxu

maria da guia disse...

Pelo menos,ocasamento serviu para alguma coisa:resultou num belo texto.Bjos.Amo vc.