Sobre o medo.

sábado, 24 de outubro de 2009

Houve um tempo em que tudo era mais fácil. Até sentir medo era mais fácil. Porque agora, até isso, querem proibir. Até isso tá difícil de sentir. Ela tem que sentir sozinha, calada, quieta no seu canto. Por que ninguém consegue perceber o medo nos seus olhos? Porque ninguém consegue entender o medo que ela sente. Quando a gente é bebê, tem aquela fase de temer dar os primeiros passos. A gente sente uma vontade imensa, mas depois de tentativas e quedas, bate aquele medo de continuar, até que vem um adulto, geralmente a mãe, ou o pai, que segura nossa mão e nos conduz. Quando a gente menos espera, sai andando sozinho, depois correndo. As quedas continuam a acontecer, mas a gente já sabe como levantar, e até aprende a ter o cuidado em evitar as próximas. Houve um tempo em que ela só sentia medo do palhaço, de barata, do escuro, da bruxa, do fantasma e do lobo-mau que poderia saltar durante a noite do lençol da cama. Então ela corria, na ponta do pé, cruzava a porta que ia dar no quarto da mãe. E ficava ali, parada no escuro, do lado da cama, até que a mãe, acordasse, sentindo sua presença, e perguntasse o que tinha acontecido. Então ela deitava ao seu lado, até adormecer, e nada mais importava. Porque ali, ela estaria segura. Agora ela tem medos mais reais. De tudo aquilo que ela desconhece, de algumas coisas que ela conhece também. Ela só tem medo. Medo do futuro, que acontece a cada novo dia. Medo, pelas indefinições e incertezas. Medo de não construir nada. Medo dela mesma e de suas decisões. Medo das escolhas erradas. Medo do arrependimento. Medo do não ter tempo pra consertar os estragos e retomar o caminho. Só que agora não existe mais a porta por onde ela corria a noite. Todos esses medos dependem dela, e somente dela. E não há nada que ninguém possa fazer sobre isso. Mas podiam ao menos deixa-la sentir. E de vez em quando, por alguns minutos, olharem de longe, pra estender a mão e dar o velho empurrãozinho, caso, em algum momento, ela caia. Porque sentir medo é uma merda. Mas uma vez que ele existe, é pra ser sentido.

3 comentários:

maria da guia disse...

medo, minha querida,teremos sempre,pois o futuro é incerto,o importante é não deixar que ele nos paralise.Nessa hora vale lançar mão do porto seguro-seus pais.Mesmo que em pensamento.

Katita disse...

É o que faço. Todo o tempo. Pode ter certeza.
:)

Anônimo disse...

Bem, esse comentário não tem finalidades de ser aprovado. Como sei que todos os comentários passam antes por seu crivo, achei melhor comentar aqui, pois aí você já faz relação com o que comento e o texto que escreveste. É engraçado como conhecer o autor nos dá novas perspectivas sobre o que foi escrito. Fiquei sinceramente emocionado com o que você escreveu aqui, mais até do que no post sobre o portão e mais emocionado ainda com o comentário de sua mãe. Decidi que só de vez em quando lerei uma crônica ou outra das mais antigas, para que elas não acabem logo. Que Deus te abençoe a continuar sempre com esse dom maravilhoso, de escritora e de filha. :) Bjs! Ah, o rastro dessa vez é: "aquele que sempre deixa rastros!"